17/09/2015, 14h49 – ATUALIZADO EM 17/09/2015, 15h03
A encíclica do Papa Francisco dedicada ao meio ambiente, divulgada em junho, chega em um momento oportuno para a comunidade internacional, às vésperas da COP 21 – a Conferência das Nações Unidas para o Clima, que se reunirá em novembro deste ano, em Paris, e deverá fixar metas para a redução da emissão de gases do efeito estufa na atmosfera. Isso ficou evidente durante audiência pública conjunta das Comissões de Mudanças Climáticas e de Meio ambiente nesta quinta-feira (17).
No documento intitulado Laudato si – Sobre o cuidado da casa comum, o sumo pontífice reconhece o consenso científico sobre as responsabilidades humanas nas alterações climáticas e defende “ações decisivas, aqui e agora,” para interromper a degradação ambiental. Na avaliação do presidente da Comissão Mista de Mudanças Climáticas (CMMC), senador Fernando Bezerra (PSB-PE), a ´Encíclica verde` pode influenciar líderes mundiais:
—Ao contrário do acordo firmado em Kyoto, que especificava as metas para um conjunto para menos de 40 países, o de Paris terá as características de um pacto global, e envolverá mais de 190 nações. [o documento] certamente está formando a opinião de diversos líderes do nosso planeta — disse Bezerra.
Para o jornalista Washington Novaes, o papa apoia no texto uma visão de que o mundo passa hoje uma crise não apenas ambiental, mas de “padrão civilizatório”:
— Nossos modos de viver hoje não são compatíveis com as possibilidades do Planeta— alertou.
O senador Jorge Viana (PT-AC) concordou com o jornalista. Ele defendeu um novo modelo de desenvolvimento, capaz de conciliar as atividades humanas com o crescimento da economia.
— Esse modelo de produção e consumo esgotou-se — assinalou Viana.
No documento, o Papa estabelece ainda uma relação íntima entre os pobres e a fragilidade do planeta, conforme observou o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Hermann Benjamin:
— A Encíclica fala da crise ecológica única e global, mas que produz efeitos diferentes, atingindo mais os pobres e hipervulneráveis — disse.
Conversão ecológica
De acordo com o secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Dom Leonardo Steiner, a Encíclica do Papa Francisco adverte que a pauta ambiental deve se tornar prioridade internacional. No documento, o líder da Igreja Católica pede uma “real conversão ecológica” de todos e defende o fim da “cultura do consumo descartável.”
— Normalmente quando ouvimos falar de conversão estamos falando de uma pessoa que crê e que tenta mudar de vida. E o Santo Padre vai falar que é preciso uma conversão ecológica, ou seja uma nova postura, uma nova compreensão, uma nova relação — elucidou Dom Steiner.
Essa conversão ecológica, acrescentou o senador João Capiberibe (PSB-AP), que propôs o debate, exige “um aprofundamento da consciência ecológica” de todos.
O vice-presidente da Comissão Mista de Mudanças Climáticas, deputado Sarney Filho (PV-MA), destacou a força da bancada ruralista no Congresso e afirmou que a Casa tem agido na contramão do que é defendido pelo Papa, aprovando leis que fragilizam a proteção ao meio ambiente.