Os últimos meses são de muita dor para o Partido Socialista Brasileiro. Primeiro perdemos o nosso presidente de honra Ariano Suassuna e agora, o presidente, Eduardo Campos.
Perdemos dois entes que se amavam. Para Eduardo, Ariano era mais um avô e para Ariano, Eduardo era mais um neto.
Ao receber a notícia da tragédia que matou Eduardo, o passado tomou conta da minha mente.
Lembrei-me imediatamente do retorno do exílio, quando tentei retomar a vida no Amapá, mas não consegui por causa da perseguição dos representantes da ditadura, ainda atuantes, no então território.
Fui obrigado a me exilar em meu próprio país. Fomos para Pernambuco: minha mulher Janete e nossos três filhos.
Lá, fui acolhido por Miguel Arraes e sua família. Por dois anos, trabalhei numa ONG sob a sua liderança. Em março de 1990, já no PSB, no qual ingressei em sua refundação em 1987, fui um dos que recepcionaram a volta de Arraes ao partido.
Ainda é difícil, uma semana depois da tragédia, encontrar as palavras.
Durante 35 anos acompanhei o crescimento do menino Eduardo, o qual, já adolescente demonstrava que iria seguir as pegadas do avô.
Adulto, Eduardo se transformou em um político que não esmorecia.
Um líder autêntico, que marcou a política de Pernambuco e do Brasil nesta década na busca por mais justiça, liberdade e igualdade para os brasileiros.
Foi, sem dúvida, uma figura política do novo tempo, modelo para todos aqueles que lutam por um Brasil mais justo.
Um dos exemplos deixados por Eduardo, talvez a sua maior marca, era manter a serenidade e a honradez, mesmo nos momentos de acirradas adversidades, mas sempre com bom humor.
Nestes 35 anos de relacionamento pessoal e político com Eduardo, falecido coincidentemente em um mesmo dia 13 de agosto como o avô, ele demonstrava que sequenciava a obra de Arraes de forma moderna.
O avô criou o programa Chapéu de Palha, que se tornou uma marca de sua trajetória pessoal e política. Eduardo modernizou e renovou o programa dentro das exigências do novo tempo.
Assim como Arraes, Eduardo trouxe novamente Pernambuco ao centro do cenário econômico e político.
Com o avô aprendeu a fazer articulação política, gestão pública e a seduzir quem dele se aproximasse. Como Arraes, Eduardo era um sedutor.
Eduardo estava empenhado no desafio de vencer a eleição presidencial, desejo que o avô, Arraes, teve colhido pelo Golpe Civil-Militar de 1964, que o obrigou a viver 15 anos no exílio.
Eduardo pregava ao Brasil, principalmente, às novas gerações, que há formas originais e não viciadas de fazer política. E que, em uma sociedade democrática, sem fazer política não há mudança consistente possível.
Eduardo vinha repisando que ele e Marina eram os únicos que mandariam a velha política para a oposição, que está encastelada no poder central desde o início da redemocratização.
Mas, Dudu, como era chamado pelo avô e por nós, tinha uma face não tão conhecida: o compromisso com a transparência, a modernização administrativa, a ciência e a tecnologia.
Eduardo consolidou um dos principais pólos de desenvolvimento de softwares do país, dando continuidade a um programa de seu antecessor Jarbas Vasconcelos, cujo candidato ele derrotou em 2006.
A consequência desse compromisso aparece na forma dos indicadores econômicos de Pernambuco, superiores à média nacional.
O que explica sua reeleição ao Governo de Pernambuco com 80% dos votos e a enorme aprovação de quase 90% ao deixar o governo em abril passado.
A identificação com o desenvolvimento tecnológico já tinha levado o nosso partido a ocupar o Ministério da Ciência e Tecnologia nos governos Lula, com Roberto Amaral, o próprio Eduardo e Sérgio Rezende.
O primeiro Portal da Transparência criado no governo federal fruto de uma lei de minha autoria, foi implantado no ministério por Roberto Amaral e aperfeiçoado na gestão de Eduardo.
Eduardo, governador, inseriu a transparência em sua administração e acompanhava a aplicação dos recursos e as obras do Estado de seu gabinete, o que foi reproduzido por vários governadores e prefeitos de capitais.
Ele criou ainda o programa “Professor Conectado”, uma ferramenta tecnológica para melhorar a qualidade do ensino público, tão exitoso que outros governos do PSB desfraldaram a bandeira, como o Amapá.
Por essa e por muitas outras, Eduardo Campos, o nosso Dudu, como disse um poeta nicaraguense, é dos mortos que nunca morrem. E que, mesmo ausente, continuará influenciando nos destinos do Brasil.
Como firmei na nota de pesar, imediatamente após receber a notícia da morte de Eduardo, tomando como um mantra uma de suas últimas frases em vida, dita na entrevista ao Jornal Nacional:
“Não vamos desistir do Brasil, é aqui que vamos criar nossos filhos”.