Por João Capiberibe ~~
No sábado, 3 de maio de 2014, eu e Janete acompanhamos Camilo, nosso filho e governador do Amapá, em suas andanças pelo interior do Estado inaugurando obras. Nosso primeiro compromisso: Cutias do Araguari, onde fomos recebidos com festa para inaugurar a ETA da cidade (Estação de Tratamento de Água).
Além de reviver momentos e histórias do passado, pude constatar o mal que faz ao povo a corrupção e a falta de continuidade nas ações públicas. Daqui a pouco explico isso melhor para vocês, mas vamos antes ao que eu e Janete vimos.
Pelo caminho fomos apreciando a paisagem diversa e deslumbrante. No começo da viagem paramos para fazer fotos no magnífico cenário de um lago cortado por um igarapé de águas pardas, rodeado de um verde intenso de árvores graúdas. Nos tempos antigos os escravos por ali se escondiam fugindo do açoite. Seus descendentes não arredaram o pé, ganharam estatuto de quilombo, e ainda hoje por lá vivem. Este lugar encharcado de história e meio mágico se chama Curiaú.
E seguimos adiante pela AP-70, passamos pela comunidade de Casa Grande, o que me fez cutucar a memória relembrando um episódio de enorme repercussão naqueles tempos idos, resumo da ópera, havia uma disputa por terra, o juiz da comarca de Macapá mandou notificar os litigantes, o oficial de justiça se fez acompanhar por uma patrulha policial.
A diligência, em princípio pacífica, terminou tragicamente, um agente da polícia civil foi atingido por um disparo de cartucheira e não resistiu. Nesse tempo eu não era gente grande, estava beirando os 12 anos, mas ainda lembro da comoção causada por este acontecimento.
O policial que tombou era pai de Carlos Nilson da Costa, que mais tarde se tornaria professor e meu colaborador em vários momentos de minha vida pública. Quando fui prefeito de Macapá ele me ajudou no planejamento da educação municipal, mais tarde no governo do Amapá foi meu secretário de educação, juntos, antes de se falar em Fundef ou Fundeb, colocamos todas as crianças de 7 a 14 anos na escola, também expandimos o segundo grau além do eixo da Av. Fab, levando-o para a periferia de Macapá e para o interior do estado.
A viagem prosseguiu, poucos quilômetros depois de Santo Antônio da Pedreira acabou o asfalto, sentimos o desconforto. É hora de voltar a falar do tema do começo dessa nossa conversa: comentei angustiado com Janete que ao sair do governo em abril de 2002, havia deixado esta obra em andamento e com dinheiro em caixa, estava tudo planejado para que esta estrada, a AP-70, que liga Macapá às regiões dos rios Pacuí-Piririm-Araguari fosse concluída no mais tardar em 2005. O dinheiro sumiu, o tempo passou e como vemos pouca coisa foi feita.
Na medida em que avançávamos íamos encontrando maquinas em movimento, ao chegarmos no entroncamento do Paulo avistamos o acampamento da empresa que retomou a obra no ano passado, atropelada pelas chuvas pouco avançou, mas este ano, precavido, Camilo assegurou a permanência dos equipamentos nas margens da estrada aguardando a estiagem. Finalmente veremos, mesmo com nove anos de atraso, a realização de um sonho meu e todos os moradores da região.
Depois de inaugurar a ETA das Cutias seguimos para a comunidade do Livramento onde encontrei velhos amigos, que hoje vivem em condições infinitamente melhores do que há 30 anos quando os conheci, depois do discurso emocionado da presidente da associação, Camilo fez a entrega de uma fábrica de farinha e seguiu para a comunidade do Tracajatuba II para mais uma inauguração, eu e Janete, felizes com tantas realizações, retornamos a Macapá.