Além de lembrar os 50 anos da ditadura militar, a sessão especial do Senado desta segunda-feira (31), presidida pelo senador João Capiberibe (PSB-AP), foi uma verdadeira aula de história. Waldir Pires, consultor-geral da República à época do golpe, narrou como foram os acontecimentos nos dois primeiros dias depois da tomada do poder pelos militares. Leia na íntegra matéria da Agência Senado:
Ao lembrar 50 anos do golpe, Waldir Pires relata ‘momento deplorável’ do Congresso
Ele contou que, na noite de 1º de abril, com o presidente João Goulart no Rio Grande do Sul, ele e Darcy Ribeiro, que chefiava a Casa Civil, receberam no Palácio do Planalto o líder do governo no Congresso, Doutel de Andrade.
– Então, Doutel nos diz: “Eles vão dar o golpe. Eles estão dizendo que o presidente fugiu.” Eu peguei a minha Olivetti e bati a última comunicação da República, um texto rápido, simples, de seis, sete linhas, dizendo: “O Presidente da República saiu para o Rio Grande do Sul, para Porto Alegre, a convite do comandante do 3º Exército, para defender o processo democrático e para que nós asseguremos a continuidade do processo democrático no país” – lembrou Waldir Pires, atualmente vereador em Salvador.
O deputado Doutel de Andrade voltou ao Congresso e da tribuna leu o comunicado, assinado por Darcy. Ainda assim, como recordou Waldir Pires, o presidente do Congresso Nacional, senador Auro de Moura Andrade, declarou vaga a Presidência da República.
– Quando Darcy acaba de ler, ele, então, diz: “Não é verdade. Declaro vaga a Presidência da República e convoco o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli, nos termos da Constituição, a assumir interinidade. Está encerrada a sessão”.
Para Waldir Pires, o gesto do presidente do Congresso foi um dos atos mais deploráveis e vergonhosos da história política brasileira. Foi ainda, de acordo com Pires, extremamente nocivo ao processo de consolidação da democracia.
Exílio
O jornalista José Maria Rabelo recordou os anos de exílio, com início na Bolívia, relatando a angústia sentida ao ser expulso da pátria.
– Mudar de casa já é difícil. Mudar de cidade é mais difícil ainda. Imaginem mudar de país, sobretudo quando você não pensava em mudar. O exilado sai compulsoriamente e vai para aquele país, talvez o último a lhe dar o direito de asilo e a possibilidade de permitir que ele vá viver em seu país.
Rabelo destacou que exílio político não é, como alguns pensam, assunto do passado. Segundo dados do Comitê Nacional para Refugiados, o número de estrangeiros que pediram refúgio no Brasil mais que triplicou entre 2010 e 2012.
– O exílio é uma chaga na história da humanidade e que está aí presente com milhões de homens e mulheres que não têm um lar para presidir e pedem emprestado o lar do vizinho – disse o jornalista.
A deputada federal Janete Capiberibe (PSB-AP) também tratou dos anos em que foi obrigada a deixar o Brasil. Contou que passou por três países e que no Chile ouvia muitas conversas sobre o jornalista Rabelo.
Agência Senado