Há 65 anos, num 10 de dezembro, a Assembleia geral da ONU aprovava a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Era o ano de 1948, e a Declaração Universal nasceu em resposta à barbárie praticada pelo nazismo contra judeus, comunistas, ciganos e homossexuais e também as bombas atômicas lançadas pelos Estados Unidos sobre Hiroshima e Nagasaki, no Japão, matando milhares de pessoas em 1945.
Dois anos após a aprovação da Declaração Universal, foi criado o Dia internacional dos direitos Humanos. Uma data especial. Um dia para se refletir e debater o conteúdo daquele documento: “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”.
A ideia de direitos humanos tem origem no conceito filosófico de direitos naturais. E o que seriam os direitos naturais? Ora, a igualdade de todos os cidadãos o direito a uma vida digna, o direito ao trabalho à segurança, o direito à saúde e à educação, o respeito pela diversidade e pela dignidade de todas as pessoas. Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.
A luta em defesa dos direitos humanos, no Brasil e no mundo, tem revelado a capacidade de homens e mulheres que, mesmo vivendo de forma quase anônima, exercem um papel fundamental na identificação e denúncia de situações de violação desses direitos. São muitos homens e mulheres. Somos! Somos muitos imbuídos do senso de justiça, que defendemos e lutamos por esses direitos. Mas hoje, aqui e agora, não poderia ser diferente, quero dedicar minhas homenagens ao homem que o mundo todo sabe quem é e que nos deixou depois de uma vida totalmente dedicada à paz, à justiça: Nelson Mandela, herói da igualdade e dos Direitos Humanos.
Nelson Mandela apreciava o conhecimento e a educação, estimava a liberdade e a habilidade de cada indivíduo contribuir para toda a sociedade. “Uma boa cabeça e um bom coração são sempre uma combinação formidável”, costumava dizer, e avaliava uma nação pela maneira como ela tratava suas crianças. Madiba era um líder íntegro, no mais radical sentido da palavra: inteiro, pleno – no discurso e na ação. Devotou sua vida inteira a uma única missão: combater horrores da violação dos direitos humanos.
O mundo todo sabe quem foi Mandela. Mas nem todos sabem que ele não era um pacifista amorfo. Ele foi à luta.
Para chegar onde chegou, Mandela desrespeitou leis. Ajudou a promover manifestações inflamadas, viajou com documento falso, pegou em armas. Foi um subversivo. Foi preso, num julgamento monitorado por toda a mídia. Figurou nas listas de terroristas da Inglaterra e dos EUA. Enquanto ficou preso, sua vida era uma espécie de Big Brother e seus “crimes” eram “explicados” para a população pela mídia “isenta”. Mas a verdade se sobrepôs. Era um homem coerente. E, depois da prisão, se elegeu presidente. Teve várias pessoas próximas perseguidas, acusadas de corrupção e outros delitos. Ainda assim, Mandela promoveu políticas de distribuição de renda, tirou recursos dos ricos para os dar aos pobres. Incluiu a África do Sul no BRICS, subvertendo a ordem econômica mundial. Como governante só não fez o que era limitante à sua condição de presidente. E estar no governo não é o mesmo que estar no poder. Mandela merece todas as homenagens, principalmente pelo exemplo de luta que deu. E continua dando. Em seu funeral, que está acontecendo agora, os líderes de Cuba e dos Estados Unidos, após décadas de distanciamento, finalmente trocam cumprimentos.
Que as gerações futuras, ao conhecer a história de Madiba, sejam inspiradas a contribuir positivamente pelo bem coletivo. E a encarar a luta.
Neste dia, então, nesta reta final de um ano marcado por tantas manifestações em nosso país, é essa mensagem que quero repercutir. Do papel que todas e todos temos, no exercício de uma cidadania consciente, de colocar o tema dos direitos humanos a ser prática cotidiana, entranhado nas nossas reflexões, de forma que possamos promover o questionamento sobre o mundo que queremos. Nesse sentido, faço um alerta: o lucro não pode estar acima da vida!
Madiba, presente!
[João Capiberibe]
[Imagem: Reprodução da pomba de Picasso]