A necessidade de se aprofundar o debate, dentro das Forças Armadas, sobre a memória da História recente do Brasil foi o tema da audiência entre o senador João Capiberibe e o ministro da Defesa, Celso Amorim, na tarde desta terça-feira (5/11).
Para Capiberibe, presidente da Subcomissão da Verdade, Memória e Justiça do Senado, que solicitou a reunião, não faz sentido que alguns segmentos militares, 50 anos depois, ainda resistam em debater a questão.
“O comando atual e os oficiais de hoje nada têm a ver com o golpe. Aqueles que já estão de pijamas é que ainda pressionam. Não tem sentido um oficial de 40 anos, que nada tem a ver com os desvios de conduta praticado por aqueles militares, defender o passado”, ressaltou Capiberibe.
O ministro Celso Amorim acredita que a sistematização das visitas organizadas pela subcomissão em antigos centros de tortura, à medida que forem acontecendo e se naturalizando, contribuirão para quebrar o tabu em torno do debate. Para ele é preciso evitar o retraimento dos oficiais.
“É preciso racionalizar a questão e conversar cada vez mais. As visitas, que terão todo apoio logístico por parte dos comandos sempre, é um grande passo para que essa conversa seja cada vez mais profunda”.
O ministro concorda que há ainda setores militares que resistem a abordagem do tema. “Minha percepção, hoje, é que há mais oficiais dedicados à profissão mesmo e não carregam ressentimentos políticos. São aqueles geralmente ligados às missões militares. Claro que há um ou outro ressentido, mais conservadores, geralmente na academia. Mas são minoria hoje”, revelou Amorim, durante a conversa.
Ao final da audiência, ministro e senador deliberaram um encontro que será agendado para dezembro, onde se reunirão com os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica, o chefe do Estado Maior e senadores para pensarem em ações conjuntas no sentido de avançar e aprofundar o debate sobre o resgate à memória como afirmação da democracia.
“A ideia é trabalhar para que as Forças Armadas atuais se incorporem verdadeiramente ao ideário democrático, se adequando aos novos tempos do Estado democrático de direitos. É preciso que as três forças militares se apropriem do debate sobre a importância da memória. Só assim será possível virar essa página infeliz da nossa história. Não foi o Exército, a Marinha ou a Aeronáutica que praticaram crimes contra brasileiros e brasileiras, mas indivíduos que utilizaram e que mancharam o nome dessas instituições que são nossas, são do povo”, declarou o senador João Capiberibe.